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Eu não quero prendas, quero presença.
Não quero beijos distantes, quero abraços apertados.
Não quero ouvir: "já te vais embora", quero um "vamos aproveitar o tempo que estás aqui".
Não quero lágrimas, quero sorrisos de afecto.
Não quero um "só te vejo para o ano", mas sim "falaremos de qualquer forma".
Não quero "adeus", quero "até já"...
Conversa cá em casa:
- Mãe, já estou de férias?
- Sim, já estás de férias da escola.
- Então, ainda faltam muitos dias para andarmos no comboio e depois no avião para ir ver os avôs?
Hoje fazes anos, dia de S. Pedro, sou incapaz de o esquecer.
Tenho saudades tuas, sabes, queria ter-te aqui, com o entendimento que tenho hoje da vida e que a maturidade também me trouxe, para falar contigo, perceber-te, abraçar-te, dizer-te que sofreste, muito e que a culpa não foi só tua, foi da vida, foi dela.
Se calhar não serviria de nada, não irias entender, a vida foi dura e madrasta para ti, não sei se o percebeste, se alguma vez quiseste mudar isso, ou se simplesmente te submeteste a ela, sem questões, nem alarido, aceitando cada dia, o melhor que pudeste, mesmo com toda a tua fragilidade.
Mas agora nada disso importa, são reminiscências, questões minhas, mais do que tuas alguma vez foram, nunca terão resposta e talvez seja assim que deva ser.
Nada disso afecta as saudades que tenho, já lá vão 15 anos sem a tua presença física, mas a memória nunca se apagará.
Um abraço apertado, onde quer que estejas.
Sinto-as por vezes, de vaguear pela Baixa, as lojas que não se encontram noutro lado, os Armazéns do Chiado, as ruas pedonais, o Arco da Rua Augusta, os gelados da Fragoleto, regressar no eléctrico 18 até casa.
Ir ao Pão, Pão, Queijo, Queijo jantar uma baguete shoarma, ou ao Restaurante Tanite, comer a fabulosa francesinha, passear depois pelas Docas, à beira do Rio Tejo, chegar à Torre de Belém e regressar.
Aquela luz mágica, o sol, a Ponte 25 de Abril, o Cristo Rei que nos acolhe do outro lado.
A minha Igreja, colorida por dentro tão mais do que por fora, o meu Coro, as minhas músicas e o almoço em casa da sogra a cada Domingo.
Hoje sim, tenho saudades...
Só falo com os meus pais por telefone, normalmente mais com a minha mãe, duas vezes por semana.
E há dias, como o de hoje, que a fim de 45 minutos de conversa, em que por fim já se toca a melancolia e a saudade torna a voz pesarosa, invariavelmente me questiono:"Será que foi a última vez que lhe ouvi a voz?"
Abate-se no corpo e na alma, muito mesmo.
Uns dias mais leve do que outros.
Mas há dias, quando sabemos que lá longe muita coisa acontece, quando sabemos que a nossa presença é desejada lá e que poderíamos fazer a diferença, nem que fosse num abraço, numa palavra de tranquilidade, é devastadora.
Arrebata-nos o corpo, o coração, devasta-nos e só pensamos que é lá que deveríamos estar, porque sim, porque deveria ser assim e não como é.
Mas a realidade que vivemos é esta, a vida que temos é esta, aqui e agora e não lá.
Por isso, resta-me o skype, o pensamento sempre lá e neles (ou nela) as lágrimas escondidas, o coração apertado e oração, muita, para que Ele me ajude a ultrapassar isto, mas sobretudo que não se esqueça dela e deles...porque afinal, a partir de agora, são eles quem mais precisam.
Durante a minha infância em casa dos meus avós, dias havia em que no regresso da escola ouvia a minha avó gritar de onde estivesse: "tens lá uma encomenda!". Era ver-se subir a ladeira a correr, entrar em casa esbaforida para encontrar um pacote, vindo de Paris, abri-lo e ficar maravilhada com o que encontrava porque era sempre uma surpresa!
No fundo aquele pacote trazia-me um bocadinho de quem estava do outro lado, longe, porque o seu conteúdo tinha sido pensado, adquirido e embrulhado com o mesmo afago que se faz um carinho no rosto de um filho, que tanta falta me fazia e que eu por breves instantes sentia.
Hoje sinto o mesmo de cada vez que chega uma encomenda de Portugal, porque sei que quem a enviou se preocupou connosco, mas essencialmente com o meu filho, porque há sempre uma peça de roupa ou um brinquedo que fazem as alegrias dele...e minhas.
Por breves instantes sinto-os aqui, perto de nós, num abraço sentido e saudoso.
Por vezes quando beijo o meu filho penso naqueles que estão longe, os avós, os padrinhos, alguns amigos, que também gostariam de sentir o quente daquela bochecha rosada, o cheiro dele, a ternura daquele abraço, a alegria pelo carinho.
E muitas vezes há beijos que não sou eu que os dou, mas cada um deles que está longe...
Dos meus pais, das conversas, de estarmos todos à mesa, do cheiro da minha Mãe, de estar lá em casa, de acordar de manhã e ir à varanda, olhar serenamente para a Serra da Estrela, lá longe, respirar fundo, de fazer festas aos cães.
De ir à Missa à minha Paróquia, de estar com o "meu" Coro, de cantar, de comungar, de rezar lá.
De ir almoçar ao Domingo a casa da minha sogra, de estarmos todos na conversa, das comidinhas boas que ela tão bem faz.
De passar um fim de semana na Sertã, de tomar banho com o meu marido e ficar descansada com o miúdo, de o ver correr e brincar por lá.
Do Simão brincar com toda a gente, de andar na mota do Tio, das brincadeiras doidas com o Padrinho.
Da Madrinha do meu filho, de fazermos a nossa manicure, de partilhar com ela um petisco, das nossas conversas de horas.
De poder deixar o Simão com alguém e ir jantar fora com o marido, serenamente.
De uma baguete shoarma do Pão Pão, Queijo Queijo, do hamburguer do H3, da francesinha da Tanite, do frango de churrasco da Grelha.
De ir à baixa sozinha, percorrer as lojas todas e mais uma.
De ir às Amoreiras, ir à Cadena, ao C&A, à Berska.
Tenho saudades do sol, que me aquecia o corpo e a alma.
E já lá vão 8 meses longe de ti...
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