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Há quem sofra, de dores no corpo e na alma, de decisões que têm que ser tomadas, de prostações e vicissitudes da vida, de medos e angústias que retiram o sono e a tranquilidade.
São tantos, cada um deles com as suas particularidades e dificuldades, que agonizam sem saber uns dos outros e eu, sou só uma, que trago em mim cada um dos seus pesares, que rezo, peço e imploro e penso diariamente em todos e cada um, na esperança de ouvir uma boa notícia, de lhes perceber o sorriso por detrás dos meios em que comunicamos, na certeza porém de que irão ultrapassar estes obstáculos.
Quero muito acreditar, por eles e por mim, que é apenas e tão só mais uma fase, no caminho da Vida que todos trilhamos e que em breve, se conjugará no passado, com um presente feliz...
Tenho saudades de estar com as pessoas, com tempo, sem muita gente à volta.
Saudades dos meus, dos jantares combinados à última hora, do café, do gelado, do "aparece cá em casa".
Da disponibilidade, do relacionamento que agora se foi...
Já não pertenço ao dia-a-dia de lá, nem tenho dia-a-dia cá com ninguém em particular e sinto muita falta desta pertença, da partilha.
Comunico com alguns, poucos, diariamente, porque a amizade se manteve, porque o acesso a vias alternativas de comunicação é mais fácil, porque nos esforçamos para que seja possível e eu agradeço-lhes muito por isso, por ainda fazerem parte de mim, do meu dia-a-dia, apesar de já não "estarmos juntos"...
O facto de ontem o meu filho ter ficado doente fez-me reflectir sobre a rede de suporte, se estivesse em Portugal, entre familiares ou amigos haveria quem pudesse ficar com ele, num decisão célere e urgente, dada a demanda da situação e horários de trabalho a cumprir. Por cá, nestas situações a rede de suporte é inexistente, há amigos, que os há, mas para situações ponderadas e combinadas com antecedência, não numa situação de dores de barriga com indisposição à mistura! Julgo que isto será talvez a maior consequência negativa da emigração, a perda desta rede de suporte que reage em espaço de minutos a uma qualquer situação por mais penosa que seja. Contamos apenas connosco e rezamos para que nada de verdadeiramente grave nos aconteça e não passe de um simples telefonema para o trabalho a avisar que teremos de ficar em casa e ouvir a resposta ríspida do nosso superior hierárquico...
Muita arrumação ainda por fazer e por fim... Uma alma despedaçada e perdida por entre a Península Ibérica e o Reino Unido.
Eu não quero prendas, quero presença.
Não quero beijos distantes, quero abraços apertados.
Não quero ouvir: "já te vais embora", quero um "vamos aproveitar o tempo que estás aqui".
Não quero lágrimas, quero sorrisos de afecto.
Não quero um "só te vejo para o ano", mas sim "falaremos de qualquer forma".
Não quero "adeus", quero "até já"...
É ir inscrever o filho na natação, no meio da confusão perceber que as aulas seriam às segundas-feiras, às 16h30.
Chegar hoje ao local, despir a pequena criatura, vestir fato de banho dirigir-se à piscina, chegar a hora pretendida e não ver a professora habitual, nem as restantes crianças, falar com as professoras presentes e perceber que a criatura não se encontra em nenhuma das listas de presenças, dirigir-se à recepção perante o ar de gozo das professoras.
Perceber na recepção, sob o sorriso amarelo da recepcionista, de que a aula ficou como sempre esteve, para as quartas-feiras às 16h30 e que o mal entendido foi nosso!
Remeter-me ao silêncio, seguir caminho com o "rabo entre pernas" e a criatura chorosa atrás e maldizer em pensamento o dia em que a minha língua materna não foi o inglês...
Desde que o meu filho entrou na escola que comecei à procura de emprego.
Eu não quero estar aqui a generalizar, nem a fazer análises aprofundadas sobre este assunto, mas daquilo que me é dado a observar e das respostas que tenho obtido, ou a pessoa, sendo estrangeira, vem trabalhar para Inglaterra para uma área específica de conhecimento em que o mercado de trabalho inglês procura candidatos e à falta de nacionais e pelo conhecimento e experiência que a pessoa estrangeira possuí, é aceite na mesma base para concorrer ao posto, ou então, para cargos mais generalistas, torna-se difícil aceitarem-nos como candidatos.
E passo a explicar, áreas como a informática, economia, gestão, saúde e até mesmo o social, serão sempre bem aceites porque há muita falta de candidatos nacionais, assim tenham conhecimento, experiência e vontade de trabalhar! Quem não ouviu falar da vaga de enfermeiros que têm vindo para cá? O meu marido é da área informática, ele e mais uns quantos portugueses com quem nos temos cruzado por cá, além de economistas, entre outros, que vieram com vínculos laborais directamente para o mercado de trabalho inglês. As assistentes sociais, ainda e apesar da crise, também têm por aqui sucesso (que estarei eu à espera, perguntam vocês?)
Já no que se refere à área de trabalho administrativa, à qual me tenho candidatado, porque apesar de minha formação académica, foi aqui que trabalhei grande parte do meu percurso profissional, a resposta é sempre a mesma: não tenho o perfil pretendido para o cargo a que me candidato.
Hoje uma amiga, não portuguesa, mas também estrageira, depois de vários emails sem resposta para obter informações acerca do seu processo de candidatura para um lugar de assistente administrativa resolveu telefonar. Quem atendeu disse-lhe que além de não possuir um nível educacional suficiente (é licenciada), não tem experiência em back office (o que se afigura verdadeiro) e pasmem-se: não é inglesa!
Obviamente que isto não foi dito desta forma, preto no branco, mas foi-lhe dado a entender isso mesmo, que candidatas nacionais têm preferência. De qualquer forma iriam tentar obter mais informações junto dos recursos humanos e voltariam a contactá-la (respostas típicas para "inglês ver"...)
Portanto, um mercado de trabalho livre onde as pessoas circulam livremente e se candidatam, não é uma utopia, mas também digamos que não é para todos!
De cada vez que alguém nos bate à porta e traz um envelope ou uma caixa para nos entregar, é uma alegria nesta casa!
E não têm sido poucas as vezes que isso acontece, familiares e amigos, no Natal, nos aniversários, ou só porque sim...
Vem logo o mais pequeno perguntar se é para ele, independentemente de quem tenha enviado e do que lá vem dentro, há sempre a alegria contagiante de abrir, descobrir, receber o mimo, e partilhá-lo, se for possível.
Vivi tantas vezes este sentimento quando era miúda, com os meus pais em França, era um bocadinho deles que vinha até mim, roupas ou outras coisas, o abrir a encomenda, o descobrir o que lá estava dentro, a contemplação maravilhada, a novidade.
Hoje em dia, sinto que se encurtam distâncias, que não caímos em esquecimento, fico com o coração e a alma sorridentes de contentamento, pelos gestos concretizados, pela partilha, pelo cuidado que cada um sempre tem naquilo que nos manda, no embrulho, na paciência e no pensamento para connosco.
Por isso sorrio, por isso as lágrimas arrasam os meus olhos, independentemente daquilo que chega, porque sei que não fomos esquecidos e que a amizade que nutro por todos e cada um, continua a dar frutos.
Para aterrar em terras lusas, ter caras conhecidas à nossa espera no aeroporto, ver o meu filho a correr pelo corredor sozinho, em direcção a uns braços abertos que o hão-de acolher e abraçar.
De derramar lágrimas de cada vez que abraçar cada um deles junto a mim.
De dar um colo, mimo e mil beijos a quem está prestes a chegar ao mundo.
De reencontrar todos e cada um.
De ir à Missa na minha paróquia, em português, com o "meu coro".
De sentir o sol quente a bater-me na cara, de ir à praia, de saborear sabores dos quais tenho saudades.
Portugal...já só faltam 90 dias...
Não é a chuva que cai durante dias e dias seguidos, ou a neve e o frio que incomodam, nem tão pouco as contas extras que aparecem para pagar, ou o que se irá pôr na mesa na semana seguinte, menos ainda os quilómetros percorridos a pé, com a pequena criatura pela mão, ou com o carrinho das compras recheado que nem um ovo.
Nem a casa por limpar, a roupa para passar, ou a quietude de estarmos os três em casa, menos ainda a Missa ouvida em inglês a cada semana, as conversas com outra mãe sobre as vicissitudes desta vida, nem o tentar perceber o que se passa à nossa volta, quando vemos televisão, ouvimos uma conversa ou falamos com alguém num dialecto estranho.
O que custa é não haver com quem partilhar tudo isto, ao fim do dia, ao fim de semana, de vez em quando, sentir um beijo na face ou um abraço, partilhar uma chávena de chá quente e um bolo, falar de trivialidades, fazer a manicure, ou ir ali à loja dos chineses ver vernizes.
Estar sem os outros é que custa, não ouvir a campainha a tocar e perceber quem vai sair do elevador, receber um telefonema e dizer até já, combinar um jantar, mesmo que seja em nossa casa, mostrar uma peça nova de roupa ou uma receita nova que experimentámos.
Problemas, no fundo, todos temos, mas este suporte permanente, actual que nos alivia o peso daqueles é que fará na vida de cada um, toda a diferença.
E na minha vida, neste momento, faz-me imensa falta...
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