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Há quem sofra, de dores no corpo e na alma, de decisões que têm que ser tomadas, de prostações e vicissitudes da vida, de medos e angústias que retiram o sono e a tranquilidade.
São tantos, cada um deles com as suas particularidades e dificuldades, que agonizam sem saber uns dos outros e eu, sou só uma, que trago em mim cada um dos seus pesares, que rezo, peço e imploro e penso diariamente em todos e cada um, na esperança de ouvir uma boa notícia, de lhes perceber o sorriso por detrás dos meios em que comunicamos, na certeza porém de que irão ultrapassar estes obstáculos.
Quero muito acreditar, por eles e por mim, que é apenas e tão só mais uma fase, no caminho da Vida que todos trilhamos e que em breve, se conjugará no passado, com um presente feliz...
Tu que de alguma forma te cruzaste comigo na minha vida.
Tu que partilhaste muitas coisas comigo, risos, tristezas, cuscuvilhices, conversas, cânticos, ensaios, pratos e restaurantes.
Tu com quem fui às compras e passeie.
Tu quem com partilhei a minha casa e eu a tua.
Tu que viste a minha família aumentar e que o acolheste com um sorriso e amizade.
Tu que de há dois anos me viste partir, num avião enorme, que me levou para longe, de ti e de tantos outros, em busca de outra vida.
Tu que já me vieste visitar ou que pensas e queres muito fazê-lo.
Eu estou longe, sei que já não nos rimos com as mesma frequência, nem partilhamos ninharias que nos fazem rir ou chorar, a cada dia, sei que já não estou ao alcance de um telefonema, ou de um: "vamos ali".
Não estou, tenho consciência também que nem tão breve estarei, mas não há dia nenhum, desde que estes dois anos se iniciarem que não pense em ti, no que fomos, na amizade que temos e no que ainda seremos.
Guardo-te no meu coração a cada dia que passa...
Este meu desenraizamento, e o facto de não ir a Portugal, há quase 1 ano, tem trazido consequências, muito ao nível das relações.
As pessoas seguiram com a vida em frente, assim como eu tive de fazer o mesmo.
A essência da amizade ficou, sem dúvida, ainda há contacto, seja por que meio for, mas o companheirismo do dia-a-dia esvaiu-se, bem como muita da partilha e da presença.
Tomei consciência que as coisas nunca mais vão ser as mesmas e que estou neste momento num impasse, porque não tenho aqui amizades que possa denominar como tal, porque não tive tempo para as construir, nem sei se alguma vez será possível ter amizades cá como as que tive e tenho em Portugal e as amizades presentes, aquelas que ficaram estão diferentes, não são as mesmas, como se algo se tivesse quebrado e dificilmente voltará a ser reposto da forma como existia antes, devido ao meu afastamento e às vicissitudes próprias da vida.
Foi doloroso encarar isto, perceber com esta frieza de que nunca mais será o mesmo, pelo afastamento, pelo tempo, pelas circunstâncias, pela vida, fiquei a pensar em tudo isto, nas consequências que isto me pode trazer.
Mas hoje acordei e pensei, não vale a pena chorar, a vida levou o seu rumo, não sei ao certo o que o futuro me reserva, nem com que pessoas me irei cruzar, vou preservar e cuidar das amizades que tenho neste momento, não é o ideal, mas é o que se pode ter, estão quase a chegar as férias, vou ter tempo de qualidade com algumas pessoas mais próximas, quero organizar um jantar com o grupo, estar com eles, tirar fotos, aproveitar ao máximo enquanto puder.
Depois, depois logo se vê...
Começou logo na sexta, com pequena criatura a queixar-se dos ouvidos, no sábado dos olhos, no domingo fomos às urgências, voltámos para casa sem medicação, mas na certeza de que vai passar, com tempo, paciência, muito chá e amenas temperaturas (um assunto para outro post).
As noites nesta casa transformaram-se num autêntico baile, de levanta-deita, dá xarope para a tosse, dá água e pequena criatura a ir para a nossa cama quando está pior.
Na segunda, na capital portuguesa, entraram-me pela casa a dentro, a minha Mãe, o meu cunhado, um amiga do peito e vá de abrir portas, tirar tudo para fora encaixotar entre coisas para casa da mãe, coisas para Newbury, coisas para dar, coisas para deitar fora. Foram três dias de trabalho árduo, comigo e com o marido do outro lado do computador a dar indicações, a assistir aquele trabalho desmesurado, feito com constrangimento por eles e assistido com sofrimento por nós.
Hoje, por estas horas, uma transportadora está a recolher os bens que hão-de seguir viagem até terras de Sua Majestade Isabel II e fica o restante, que amanhã, há-se ser carregado ainda pelos mesmos familiares, numa carrinha alugada para seguir viagem para a Beira Alta.
Dia 28 entram os novos inquilinos lá para casa, tive a sorte e a protecção se serem amigos, conhecidos e fazerem há algum tempo parte da nossa história de vida, pelo que estamos minimamente descansados quanto à entrega e vivência da nossa casa.
Mas até que este dia chegue, que as coisas se encaminhem, tomem um novo rumo, têm sido noites muito mal dormidas, dores de cabeça e o coração arrebatado por todos estes acontecimentos.
Acho que posso e devo, dizer aqui publicamente e fá-lo-ei em privado, quanto antes, que há pessoas que apesar do laço de familiaridade e de amizade que nos une, fizeram por nós o impensável, entregaram-se numa tarefa única e muito nossa, como se fosse deles e isso acho que não tenho como agradecer, apenas mencionar que os admiro imenso e que têm há muito um lugar muito próprio, no meu coração e na minha alma.
Encontrar uma amiga portuguesa logo pela manhã, tomar um café juntas, estar 30 minutos na conversa!
Ganhei o dia!
Em conversa com a Bea, ela disse-me que o que ganhamos com esta estadia aqui é o conhecimento de outras culturas, no melhor e pior que elas têm, sem pagar bilhetes para viajar!
De facto é verdade, o meu marido tem um colega de trabalho de nacionalidade turca, que também está cá há cerca de um ano, a esposa juntou-se a ele, estava grávida e a Melissa, nasceu no Reino Unido.
Por entre almoços e jantares, partilhámos pestiscos, formas de cozinhar, ideias, vidas.
Ontem estiveram cá em casa, conhecemos a Melissa pessoalmente, mais uma vez trouxeram-nos um doce tradicional turco: Baklava, eu partilhei rissóis.
Quero acreditar que construimos laços para a vida!
Estão de partida para a Turquia novamente, com um novo elemento na família, um novo emprego para ele e a mala cheia de novas experiências!
Desejo-lhes toda a sorte do mundo, do fundo do meu coração!
E que a Melissa cresça, saudável e feliz, com uma vida risonha pela frente...
E eu estou a fritar rissóis para os meus convivas!
E é tão bom, esperar alguém, ter uma coisinha especial para lhes dar!
Como em Lisboa, na minha casa, tal e qual!
O facto de estarmos a viver noutro país, faz com que as visitas de familiares e amigos, sejam uma emoção.
São os dias anteriores e preparar tudo: fazer compras, ementas, os locais a visitar, coisas a fazer.
No próprio dia fazer os petiscos, dar um jeito na casa, organizar as dormidas.
Quando chegam é a emoção de ver as pessoas de quem tínhamos saudades, é o estar, as conversas, os sorrisos, a partilha desta que agora é a nossa casa, do nosso quotidiano, da cidade, é vê-los admirados com o que para nós agora é normal. É passear, conhecer novos sítios, tirar 1001 fotografia, percorrer ruas, jardins, museus e mercados, andar nos transportes públicos... É integrá-los na nossa rotina, mais leve por esses dias, sempre falada em português.
Por fim, o regresso deles às suas vidas, o acompanhar à útlima viagem de comboio até ao aeroporto, voltarmos para casa e reorganizar tudo: lavar roupas, arrumar camas, fazer comer.
Voltar de novo à rotina, agora mais sós...
Esta tomada de decisão foi longamente reflectida, nas quatro paredes da minha casa, foi angustiante e ansiogénica, tivemos de ponderar se vale a pena ir, ou será preferível ficar, perceber tudo o que isto implica: o colocar em causa a vida e a rotina, tal como a concebemos, as relações e as amizades.
Foi díficil e apesar da decisão tomada, ainda é difícil de aceitar e mais ainda de transmitir aos outros, não se faz com ligeireza, nem com alegria, faz-se com esperança, mas acima de tudo com confiança nas relações e na amizade, que queremos que perdurem para além da distância.
Fiquei e ainda fico supresa com a reacção das pessoas, que varia entre o espanto, o silêncio e a comoção, julgo que a notícia que tem tanto de inesperado, como de repentido, suscita estas emoções. Com tudo isto, dou-me conta que não tinha noção do valor que eu e a minha amizade representamos para cada um daqueles a quem pessoalmente transmiti o que se está a passar e somente perante estes factos e a perspectiva da ausência, os actos falam por si.
Isto faz-me dar ainda mais importância a cada um deles, que de uma forma ou de outra, mas sempre de modo peculiar e único, marcaram indelévelmente a minha vida e continuarão a fazê-lo.
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