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Não há vez nenhuma que não partilhe alguma coisa com quem quer que seja, principalmente em Portugal, que não venha logo a "voz do agoiro" a responder que vai acontecer alguma coisa má.
O pior é que este crer e sentir enraíza-se em nós e acho que é inconsciente, faz parte ser-se assim, deprimente, depressivo, triste, já nem sei como adjectivar isto! Eu sempre vivi rodeada de pessoas assim, só agora que sai do país e que contacto menos vezes com todos e cada um é que tomei consciência disto, chega a ser doentio!
Digam lá se haverá pior do que partilhar alguma coisa com alguém, seja ela de que carácter for e ouvir a contraparte e congratular-se mas arrematar a conversa sempre com algo negativo que possa acontecer! Até um simples "vamos de férias", termina sempre com um "vamos lá ver se não está a chover!", que regozijo!
Se há anos idos isto fazia parte do meu ser, agora, sou sincera, altera-me de sobremaneira, para não afirmar que me choca, ver-se sempre o "copo meio vazio" ou arranjar forma de o "despejar totalmente"...
Eu reconheço que a vida não está fácil para ninguém, toda a gente tem problemas, mas encarar a vida e os ditos problemas pelo pior ângulo possível não os vai resolver, menos ainda perspectivar formas de chegar à resolução dos mesmos e mais moldar o consciente com tanto negativismo, só nos faz mal, na forma como vivemos o encaramos a nossa vida, mas até na forma como nos relacionamos com os outros (eu que o diga!)!
Eu tento mudar o discurso, mas às vezes também me canso e acabo, assim, aqui a escrever o que devia ter dito à contraparte...Obrigada por estarem vocês aí desse lado a ouvir o desabafo! E por favor, acreditem, nem tudo terá sempre que ser mau!
Há quem sofra, de dores no corpo e na alma, de decisões que têm que ser tomadas, de prostações e vicissitudes da vida, de medos e angústias que retiram o sono e a tranquilidade.
São tantos, cada um deles com as suas particularidades e dificuldades, que agonizam sem saber uns dos outros e eu, sou só uma, que trago em mim cada um dos seus pesares, que rezo, peço e imploro e penso diariamente em todos e cada um, na esperança de ouvir uma boa notícia, de lhes perceber o sorriso por detrás dos meios em que comunicamos, na certeza porém de que irão ultrapassar estes obstáculos.
Quero muito acreditar, por eles e por mim, que é apenas e tão só mais uma fase, no caminho da Vida que todos trilhamos e que em breve, se conjugará no passado, com um presente feliz...
Vivo dentro dele, leve, quente, acomodada e moribunda.
Olho, através dele, a realidade lá fora, almejo-a, quero-a, mas o medo de sair, de falhar faz-me ficar dentro dele...
E os dias escorrem, os anos passam e vivo dentro de um ninho, leve, quente, acomodada e moribunda.
Quando terei eu coragem de sair de dentro dele, calcorear o caminho que tanto procuro e olho por entre o meu ninho...
Quando aceitarei eu que cair faz parte do caminho, que haverá sempre quem me ajude a levantar, que a realidade se acomodará aos meus passos e que o que importa no fundo é sair do ninho e VIVER!
O meu filho, do alto dos seus seis anos de idade, deu-se conta da nossa finitude, tomou consciência de que nós, pais, não iremos viver para sempre e por ordem lógica iremos morrer antes dele. Surgem as questões, se vamos viver até aos cem anos, quando iremos morrer, que vai ser dele após a nossa morte e segue-se-lhe a angústia e o medo de ficar sozinho.
Tento trazer alguma paz e serenidade à consciência dele em tumulto, argumentado que podemos não morrer os dois (eu e o pai) ao mesmo tempo e que mesmo na eventualidade de isso acontecer, haverá sempre quem olhe por ele.
Mas a tomada de consciência vem acompanhada de perspicácia e rapidez na contra argumentação, nenhuma das pessoas que nomeio nos pode verdadeiramente substituir, além de que vivem todos lá longe e ninguém iria ficar eternamente na nossa casa para tomar conta dele!
Julgo que a maternidade nos faz repensar na morte, principalmente no que será dos nossos filhos, após esta acontecer. Neste momento ouço de viva voz os meus medos pela boca dele e não me sinto em nada descansada perante a angústia que ele e eu sentimos, até porque sabemos, mais eu do que ele que é apenas e tão só, uma questão de tempo...
Porquê que as pessoas falam ao TLM ou estão com os auscultadores nos ouvidos quando estão a ser atendidos por terceiros?
Sou só eu que acho uma total falta de respeito e de educação?!
Vou retomar um tarda nada, o da psicoterapia, já não sei quantos anos vão destes "ciclos psicoterapêuticos" como se houvesse sempre problemas que surgem, fantasmas que se impõem, que novamente me esmagam e me fazem "re-questionar" tudo. Sinto-os sempre como uma derrota sobre mim mesma, como se não fosse capaz de enfrentar sozinha os males que me oprimem e desta feita colocam tanto em causa...
Contudo encaro este retorno como uma necessidade, isso assumo sem culpa, pelo sofrimento que tenho sentido, por tudo o que germina em mim, a última consulta foi prova inequívoca disso, o nomear do que sinto fez-me perceber a dimensão do problema. A tomada de consciência trouxe-me ao mesmo tempo o choque sobre a realidade sentida, os meus alicerces, aquilo que considero inabalável, está a sofrer um valente abanão.
Está a ser difícil de aceitar, ainda mais fazer alguma coisa para mudar isso, mas quero acreditar que mais uma vez vou ser capaz de superar isto.
Por estes dias há novos ciclos que se iniciam, há quem comece o ensino básico, há quem case, há quem inicie uma nova formação académica, há quem se mude de país, de casa e de emprego e há quem tenha terminada a caminhada de Vida terrena.
A Vida é feita assim, de ciclos, de recomeços, de mudanças, de finitude, ensinando-nos que nada é constante, nada é para sempre, que nos cabe a nós seguir em frente, decidir, adaptarmo-nos e vivermos o melhor que a Vida tem para nos dar.
Tenho saudades de estar com as pessoas, com tempo, sem muita gente à volta.
Saudades dos meus, dos jantares combinados à última hora, do café, do gelado, do "aparece cá em casa".
Da disponibilidade, do relacionamento que agora se foi...
Já não pertenço ao dia-a-dia de lá, nem tenho dia-a-dia cá com ninguém em particular e sinto muita falta desta pertença, da partilha.
Comunico com alguns, poucos, diariamente, porque a amizade se manteve, porque o acesso a vias alternativas de comunicação é mais fácil, porque nos esforçamos para que seja possível e eu agradeço-lhes muito por isso, por ainda fazerem parte de mim, do meu dia-a-dia, apesar de já não "estarmos juntos"...
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