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Conheci a Bea, porque o filho dela anda na mesma sala do meu, aqui na creche.
Ela húngara, o marido português, travámos amizade, conversamos, partilhamos a mesma situação de vida.
Estão a tentar engravidar, mas de entre a primeira gravidez já por si complicada, um aborto entretanto, seguido de uma depressão e um aconselhamento de sair do país para mudar de vida, as coisas não se têm revelado fáceis.
E este mês após exames sucessivos, eis que se vislumbra uma possibilidade que se desaveneceu novamente hoje pela manhã.
Foi difícil vê-la chorar, no meio da rua, transtornada, farta de ter esperança em nada, ter de aguardar mais um mês e o tempo passa, silencioso, mordaz.
Fiquei sem saber o que lhe dizer.
Revejo-me muito nestas situações, porque o meu prognóstico relativo a uma gravidez, sempre foi relutante.
Alertaram-me para todos os cenários possíveis, aconselharam-me a não pensar muito nisso, que depois logo se veria, uma etapa de cada vez...
Tive sorte, muita sorte, porque não cheguei a conhecer este mundo da esperança estilhaçada a cada mês, dos tratamentos sucessivos, das ecografias, das injecções, dos males estares e das horas programadas para se fazer amor.
Da dor que é querer ter um filho, desejá-lo para lá do que é possível sentir-se e o tempo e o nosso corpo afirmarem-se contra a concretização deste sonho.
Eu felizmente sei o que é ter um filho no colo e vi este nosso desejo concretizado, contudo ver essa esperança amputada numa família que tanto almeja por isso faz-me sofrer e pensar na mágoa que estas pessoas carregam com elas no seu dia-a-dia.
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